DIVERSOS
DETALHES DE NOSSA HISTÓRIA
Antes do ano 1500 a região da atual Porto da Folha se achava entre a vegetação caatinga sob a proteção de algumas tribos indígenas que habitavam a orla do São Francisco e proximidades.
Com a criação das Capitanias Hereditárias (primeiro sistema administrativo do Brasil) em 1534 por Dom João III, destacou-se, entre outras, a da Bahia de todos os Santos, a qual se estendia de Itapuã ao Rio São Francisco.
Ao passo que região navegável do baixo São Francisco era frequentemente visitada por colonos, a Capitania foi entregue ao donatário Francisco Pereira Coutinho, mas, com a morte deste, fracassaram as diversas tentativas de colonização da zona, e a parte onde se acha Sergipe permaneceu à margem da colonização portuguesa, porém num labirinto confuso possibilitando a chegada de piratas franceses atraídos pela abundância do pau-brasil. Estes invasores findaram colonizando os Tupinambás (indígenas da região litorânea).
A tarefa de colonização desta parte teria sido confiada aos Jesuítas Gaspar Lourenço e João Salônio, a princípio bem sucedida, sendo lançados os fundamentos da colonização nas três aldeias indígenas criadas: São Tomé, Santo Inácio e São Paulo. Em 1575 o governador geral da região norte da Bahia, Luiz de Brito, assumiu a colonização das terras entre o rio Real e São Francisco. A intervenção dos soldados de Luiz de Brito fez fracassar o progresso da colonização Jesuítica ao travarem-se as lutas que foram destruídas aldeias indígenas e vencidos os caciques Serigi, Surubi e Aperipê. Logo após este conflito nenhuma tentativa de colonização foi feita, retornando os franceses à terra sergipana; com isso a colônia passou a exigir comunicação por terra entre Bahia e Pernambuco, sendo imprescindível a colonização de Sergipe, tarefa destinada a Cristóvão de Barros em 1590, que barrou o domínio espanhol e se destacou no definitivo domínio das terras ao vencer o chefe indígena Baepeba, fundando em seguida a cidade de São Cristóvão. A partir deste episódio foram distribuídas sesmarias, e a colonização sergipana se processou no sentido sul-norte, tendo como escudo a criação de gado.
Somente no início do século XVII surgiram os primeiros engenhos, sendo importantes os dos vales do rio Real, Vasa-barril, Sergipe, Cotinguiba e São Francisco, os quais contribuíram para a exploração do interior, assim como a das minas de prata da serra de Itabaiana, à qual está ligado o nome de Belchior Dias Moréia (1619).
A invasão holandesa não foi benéfica para Sergipe pelo fato de haver promovido a interrupção do progresso, ocasião em que os rebanhos foram dizimados, a cidade de São Cristóvão incendiada e seus habitantes dispersos. Após a expulsão dos holandeses, na segunda metade do século XVII, a normalidade voltou à vida sergipana, entretanto, na fase de evolução da freguesia de Santo Antônio de Vila Nova (atual Neópolis), ainda foi constatada a presença de holandeses no baixo São Francisco. Com relação a esta área, consta que as terras da orla direita do São Francisco teriam sido doadas pelo Rei de Portugal a Antônio de Britto Castro, afim de que fossem construídas 30 casas, cadeia, pelourinho e casa de câmara.
De acordo com a Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, a partir do início de século XVII (1601), parte deste latifúndio começou a ser conhecido através de Tomé da Rocha Malheiros, que obteve uma sesmaria de 10 léguas a partir da Serra da Tabanga, ponto inicial do povoamento, até Jaciobá. Em sequência, Gaspar da Cruz Porto Carreiro, Pedro de Figueiredo e Domingos da Cruz Porto Carreiro vieram substituir Rocha Malheiros na tentativa de colonização desta zona, obtendo a sesmaria concedida por carta de 30 de agosto de 1625, de 06 léguas em quadro, porém, a partir da ponta da Serra da Tabanga, subindo o rio, até o outeiro de Jaciobá.
Por Alvará, de 20 de março de 1665, era feita a Pedro de Abreu Lima a concessão de três léguas de terras a partir da serra da tabanga correndo para o sertão até as vizinhanças de Porto Carreiro, e 03 léguas para baixo até entestar com Paulo Antônio Freire, fato que comprovou não terem sido infrutíferos os esforços de colonização naquele momento.
A concessão feita a Pedro de Abreu Lima teria sido um presente de sua sogra Dona Guiomar de Melo, viúva de Antônio Cardoso de Barros (filho de Cristóvão de Barros). O citado lote, ora pertencente a Pedro de Abreu, passou a ser chamado Urubu de Baixo.
Com a morte de sua mulher, Pedro de Abreu Lima findou distribuindo estas terras entre jesuítas, carmelitas e os filhos, “daí o reconhecimento da denominação ‘morgadio’ aplicada ao lote”. Desta partilha coube aos religiosos o domínio da ilha ‘São Franciscana de jacaré’, posteriormente reconhecida por Ilha de São Pedro, visto que o mestre-de-campo Pedro Gomes reuniu os índios Aramuru e passou a utilizá-los como combatentes na expulsão dos holandeses daquelas imediações. Como recompensa foi concedida aos índios permissão para viver nas imediações da igreja e receber os missionários.
Em 1672 foi fundada, pelos capuchinhos franceses, a Missão de São Pedro do Porto da Folha, que, segundo tradição oral, se achava delimitada por seis (06) demarcações com pedras fixadas pelos primeiros conquistadores espanhóis e portugueses em 1653, (FIGUEIREDO, 1981, p. 88) Sob a liderança do missionário Frei Anastácio de Audierne, o qual permaneceu por mais de seis anos naquela redução, iniciou-se a catequização indígena, Audierne também atuou entre os negros e portugueses. Em reconhecimento, a Coroa lhe concedeu uma embarcação para auxiliá-lo em seus serviços nas povoações ribeirinhas, assim Audierne começou a missionar entre os Ciacó (posteriormente conhecidos por Xocó) e os Koropotó, que constituíram a Missão de São Felix da Pacatuba a vinte léguas rio abaixo partindo da Ilha de São Pedro. Nas imediações da Ilha de São Pedro havia várzeas férteis e isso proporcionou o interesse de invasores pela região, tanto que foi constatado em 1682 um sítio no local onde hoje se situa o povoado de Ilha do Ouro, cujo fundador teria sido Gerônimo da Costa Taborda, que ali se estabeleceu com lavoura e criação de gado, mas não prosperou devido ataque de negros fugitivos, que lhe roubaram o gado e destruíram as plantações. Estes negros mais tarde foram desalojados dali pelos índios reumirins (segundo outros, romaris), tribo local subordinada a clã do famoso chefe Pindaíba, mantenedora do domínio entre a Serra da Tabanga e riacho do Tamanduá.
Santo Antônio de Vila Nova (Neópolis) se destacou como primeiro aglomerado urbano a ser criado à margem direita do São Francisco, sendo elevado à categoria de Freguesia em 1679, quando a ela foi anexada uma área de 50 léguas rio acima, cuja extensão estava limitada entre a foz do rio São Francisco à barra do rio do Sal. A oficialização do desmembramento das terras sob o domínio de Vila Nova Del’ Rei se deu em 1718, momento que a povoação conhecida por Urubu de Baixo foi elevada a freguesia, passando a chamar-se Freguesia de Santo Antônio do Urubu de Baixo, que deteve 40 das 50 léguas pertencentes à Vila Nova, trecho limitado entre a desembocadura do rio Pindoba e a barra do rio do Sal.
Em 1733, a Freguesia Santo Antônio de Vila Nova foi elevada à Vila, passando a chamar-se Vila Nova Del Rey.
“Diante da dúvida que se apresenta com relação à data da fundação do Curral do Buraco, a de maior credibilidade é a versão que aponta o século XVII como a era dos currais ao longo do baixo São Francisco. Estes currais geralmente eram de pedras ou pau-a-pique, destinados a prender rebanhos bovino, caprinos e ovinos. Tomaz Bermudes compartilhou da elite de curraleiros, vindo a se estabelecer na parte semiplena do topo da serra existente logo acima da grota do atual extinto tanque novo, ou seja: no terreno onde hoje se acha o bairro Coroa do Meio. Ali Bermudes iniciou sua atividade pecuarista fazendo amizade com os índios. Após sua morte, consta que seu filho Gerônimo Fernandes deu continuidade a obra no mesmo lote, entretanto existe a possibilidade deste ter sido morto ou expulso das terras.”
De acordo com as anotações do historiador Dr. Felisbelo Freire (Hist. Territ. do Brasil), foi Tomaz Bermudes, o fundador do citado curral.
“Deduz-se, portanto, que a fundação do Curral do Buraco num dos últimos montes da mesma vazante do sítio de Taborda, atualmente Ilha do Ouro, tenha ocorrido na mesma época ou em época aproximada, levando-se em conta também a fundação do Curral de Pedras (Gararu).”
Segundo outros escritos - A Missão de São Pedro, em sua atuação como centro cultural das tribos indígenas e a serviço dos interesses da Coroa na expansão colonial, esteve sob a administração dos capuchinhos franceses até a expulsão destes em 1700. Depois do conturbado e violento período, em 1709, os capuchinhos italianos vieram a assumir a responsabilidade das missões são franciscanas. Em 1716, após quatro anos de construção, utilizando-se de mão-de-obra indígena, os religiosos inauguraram o convento na Ilha de São Pedro, que serviu de base e proteção à missão católica contra ataques de índios e negros revoltosos.
Os missionários capuchinhos, que deveriam garantir a propriedade territorial à aldeia, jamais asseguraram aos índios o livre uso de suas terras cada vez mais diminutas por conta da ampliação das pastagens. Em 1724, a ambição dos curraleiros fez com que estes pedissem a transferência dos Aramuru para a aldeia de Pacatuba, e também que fossem cassados os autos da medição das terras a fim de invalidar a doação de terras aos índios. Neste período foi registrada uma variação demográfica substancial na população indígena do aldeamento de São Pedro, correspondia, naquele ano, a 320 índios, reduzindo-se para 250 em 1758 (DANTAS & DALLARES, 1980, p. 150). Tais números denotam a problemática da violência encabeçada pelos colonizadores, assim como a devastação ambiental e epidemias disseminadas por estrangeiros.
Na visão de alguns historiadores, a colonização em Sergipe se processou de forma muito violenta. Os colonizadores não admitiam reação de tribo que se contrapusesse aos interesses da coroa. A tribo sofreria amargamente, a ponto de ser dizimada por completo. Os portugueses encontraram forma legal para declarar guerra contra os índios revoltosos, e com isso o obter escravos para o trabalho, muitas vezes contando com auxílio de índios de tribos rivais para anular qualquer reação contrária de outra tribo fazendo com que índios guerreassem entre si.
Entre missionários e colonos também havia divergências, porém os interesses eram os mesmos: escravizar e apoderar-se das terras indígenas.
COM RELAÇÃO À ORIGEM DA DENOMINAÇÃO ‘CURRAL DO BURACO’ E SURGIMENTO DE FOCOS HABITACIONAIS AO REDOR DESTE, É POSSÍVEL QUE TENHA OCORRIDO O SEGUINTE:
“Levando em conta o século XVII, que se apresenta como era de expansão dos currais no nordeste brasileiro, e que por volta de 1637 historiadores constataram a existência de 400 currais espalhados nas terras de Sergipe, possivelmente Tomaz Bermudes tenha fundado o curral na primeira metade do século XVII, comprovando assim sua participação entre os curraleiros em decorrência de ter vivido numa época aproximada a tal constatação. Como boa parte destes curraleiros era de origem francesa e holandesa, existe a possibilidade de terem sido expulsos. Daí a justificativa de Eufrásio (historiador portofolhense) desconsiderar a existência de Tomaz Bermudes e herdeiros neste reduto. A não admissão de Eufrásio, quanto ao fato, se justifica pelo longo espaço de tempo entre sua abordagem e a era dos currais.”
Ainda com relação ao nome original, predomina a hipótese de, naquela época, se avistar do topo das serras mais elevadas efetiva depressão em torno da colina onde Tomaz se assentou, tendo o aglomerado urbano surgido posteriormente de forma muito lenta e em pontos distintos por causa do solo irregular naquele trecho. Há confirmação de que a Restinga durante certo período se manteve com maior número de moradias, superando a própria Rua de Baixo em número de habitantes. Possivelmente a povoação do Buraco iniciou sua lenta formação entre 1630 e 1700, quando algumas casas foram erguidas na Restinga, no Brocotó, Lagoa Salgada e Rua de Baixo.
“Acredita-se que, após a desocupação em massa dos holandeses do solo sergipano em 1645, alguns descendentes destes persistiram camuflados nas imediações do novo aglomerado urbano que já se formava nas imediações do curral do buraco, proporcionando assim alteração no número de moradores local, tal acontecimento foi confirmado pelos mais antigos, que atribuíram ao difícil acesso dos opressores a razão da permanência de algumas famílias de origem holandesa na localidade. Existem indícios de que estes refugiados se fixaram em pontos distintos das terras do morgadio”.
Antepassados afirmaram a existência de um pequeno cemitério contendo alguns túmulos defronte a capelinha, exato local onde se acha atualmente a Paróquia de Porto da Folha, possivelmente utilizado antes do aparecimento da rua de baixo. Segundo outras indagações, o citado oratório passou por muitas reformas até alcançar a estrutura da igreja atual.
No tocante à extensão da área portofolhense, consta em documento que em novembro de 1807 o fidalgo Don Antônio Ferrão Castelo Branco havia registrado seus títulos imobiliários na Comarca de Propriá, declarando ser de 30 léguas a extensão de suas terras, latifúndio que constitui o célebre morgadio de Pôrto da Fôlha (História dos limites entre Sergipe e Bahia, de F. A. Carvalho Lima Júnior).
Em 08 de julho de 1820, a Carta Régia de Dom João VI, recentemente chegada da Europa, elevava Sergipe à categoria independente da Bahia, nomeando, neste mesmo mês, presidente o Brigadeiro Carlos César Burlamaque, que tomou posse no início de 1821 e governou apenas 30 dias, sendo deposto por tropas vindas da Bahia, às quais se aliaram muitos senhores de terra de Sergipe. Em 20/03/1821 Pedro Vieira de Melo assumiu a presidência de Sergipe.
No decurso de 1821 concretizou-se a batalha anteriormente iniciada por D. Antônio Ferrão em 1807, onde Urubu de Baixo ficou sem a maior parte de sua área. Atribuindo-se ao lote desmembrado, com medição de 30 léguas, o cognome “MORGÁDIO DE PORTO DA FOLHA”. A existência do convento nestas terras, fundado pela Missão de São Pedro (grupo de jesuítas destinados a catequizar os índios daquela região) favoreceu a criação da nova sede, cuja foi batizada com o orago “Freguesia de São Pedro do Pôrto da Fôlha”, que iniciou seus trabalhos em janeiro de 1822.
A independência do Brasil,declarada pelo príncipe herdeiro Dom Pedro I no dia 7 de setembro de 1822 às margens do riacho Ipiranga em São Paulo, determinou o fim do laço colonial com Portugal, declarando-se o Brasil uma nação independente.
Em 01/10/1822, na cidade de São Cristóvão, foi eleita a Junta Governativa Provisória, composta de cinco membros, liderada por José Mateus da Graça Leite Sampaio, que tomou posse no mesmo dia. Seguiu-se, então, um período de lutas em que se confundem a luta pela emancipação política sergipana e a luta pela Independência do Brasil.
Em 05 de dezembro de 1822 Dom Pedro I foi aclamado Imperador do Brasil, Em sequência, início de 1823, a presidência de Sergipe foi entregue a José de Barros Pimentel, posteriormente passada para Guilherme José Nabuco de Araújo; nomeando oficialmente em novembro de 1823 novo Presidente para Sergipe, tratava-se do Brigadeiro Manuel Fernandes da Silveira, empossado em 1824 após enfrentar problemas com a classe dominante da Província. Em 15/02/1825 Manuel Clemente Cavalcanti de Albuquerque assume o poder em Sergipe, vindo a falecer no dia 02/02/1826, momento que o vice, Capitão-Mor Manoel de Deus Machado é empossado e permanece na presidência até 20/02/1828, momento em que a governabilidade é entregue a Inácio José Vicente da Fonseca, o qual falece no cargo em 11/08/1830, sendo a vaga é preenchida por Joaquim Marcelino de Brito em 16/01/1831.
Diante do emaranhado sucessório na presidência de Sergipe, ocorreu a abdicação de Dom Pedro I em 07 de abril de 1831, acontecimento comemorado com festa em São Cristóvão, reflexo do sentimento anti-lusitano gerado durante as lutas da independência.