ASSASSINATO EM PORTO DA FOLHA
Data: 01 de janeiro de 1906
Através deste resumo podemos observar detalhes importantes de nossa história no início do século XX.
O crime
O crime ocorreu por volta das quatro horas da tarde do dia primeiro de Janeiro, no sítio denominado João Alves propriedade de José Paes da Silveira. Chegando ao sítio por volta das quatro horas, seu pai Cândido de Tal, cujo apelido era Cândido Gato, trazia consigo uma espingarda. Pouco tempo depois, logo em seguida chegou Francisco Alves de Sá. A discussão que havia começado era por conta de um desentendimento e afrontas entre Cândido Gato e Manuel Marques de Sá, sobrinho de Francisco Alves de Sá, envoltos numa disputa por terras. A discussão entre ambos chegou a tal ponto que se efervesceram os ânimos e travaram, segundo o documento, uma verdadeira “luta”, ou seja, aconteceram sérias agressões físicas. Discorrendo Francisco Alves de Sá, o réu, punhaladas sobre Cândido Gato. Embora ouvisse as súplicas do filho, José Paes da Silveira, que no momento estava presente, para que não matasse seu pai; o réu apoderou-se da espingarda e desferiu um tiro e depois várias punhaladas. Mediante tão hediondo crime a população ficou horrorizada e a força pública estadual foi então acionada e agiu prendendo Francisco Alves de Sá, que ainda se encontrava no local do crime e com as armas usadas e com a vítima ensanguentada ainda ao chão. O crime foi hediondo, Cândido Gato havia sido vítima de punhaladas, tiro de espingarda e, novamente, punhaladas. O fato chocou pela sua brutalidade e a população ficou estarrecida, embora não se demonstre durante o processo nenhum sentimento de revolta popular pedindo o sofrimento imediato do réu. Mas quem era de fato o réu?
Francisco Alves de Sá, filho legítimo de Manuel Francisco de Sá e Maria da Conceição, ambos já falecidos. Tinha cinquenta anos de idade, era casado e tinha como ofício ser lavrador e que não sabia ler e escrever. Era tido por todos como bom pai de família. Pode-se perceber com isso que se tratava de um indivíduo da camada pobre da população, da camada menos abastada e de origem camponesa, pertencente às baixas classes de Porto da Folha.
Em seguida os policiais do quartel de Porto da Folha o prenderam e o recolheram no cárcere. A cidade inteira entrou em pavorosa, muitos crimes foram perpetuados em Porto da Folha, mas esse causou a indignação pela sua “barbárie”, como atesta o escrivão interino Manoel Gitirana, e por se tratar da vítima não ser reincidente criminal como atesta o processo. Em seguida o delegado de polícia da cidade, Antônio José Pereira, averiguou o caso interrogando as testemunhas que foram muitas a começar por Belarmina da Silva filha da vítima, e depois todos os que estavam presentes no local. Dentre os cidadãos que serviram como testemunha, temos Eugênio Sant’Anna, Afrígio Rodrigues do Nascimento, Antônio Figueira de Souza, João Fernandes de Brito Sobrinho, Aprígio Rodrigues do Nascimento entre outros.
É interessante notar que as testemunhas do sexo feminino não sabiam ler e escrever, sintomas da sociedade centrada no patriarcalismo, pois, não havia sentido em educar as mulheres daquele tempo. O promotor de Justiça seria Antônio Dantas Rio Branco e o juiz Miguel Alves Feitoza Filho.
Ao averiguar melhor o caso, sobretudo analisando a possível participação de personalidades influentes da cidade e que eram contemporâneas ao ocorrido. No livro “Porto da Folha: fragmentos da História e esboços biográficos” podemos refazer parte do contexto em que o crime ocorreu e perscrutou as pessoas influentes e sua possível participação no cargo. Foram listadas quatro personalidades que tiveram forte influência em Porto da Folha e que são contemporâneas ao caso, a primeira delas é Antônio Porfírio de Britto que no ano do ocorrido tinha 22 (vinte e dois) anos. O que mais chama a atenção é que desde os 21 (vinte e um) anos de idade, Antônio Britto escrevia artigos para jornais começando com O Luctador; O Nacional; O Monitor; A Semana; O Penedo; O Norte, de Propriá; e A Idea, da cidade alagoana de Pão de Açúcar e que fica na outra margem do rio São Francisco. As únicas cópias a que tive acesso foram O Monitor que na edição de 1890 não era de sua autoria. E o A Idea de Pão de Açúcar no qual tinha uma edição sua um pouco tardia de 1914. Portanto, posso dizer que nos jornais encontrados no rico acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, até o presente momento não dispomos de nenhum artigo de Antônio Porfírio Britto sobre o caso analisado.
A outra personalidade é ainda mais emblemática e lembrada até hoje na pequena cidade, trata-se de Francisco Alves Feitosa mais conhecido como “Sinhôzinho Bahia”.